sexta-feira, 30 de maio de 2014

Mudança de endereço

Caros Leitores,


É com muito orgulho que a equipe do BLOG Circuito Acadêmico comunica a todos a mudança de endereço para o novo SITE do Circuito Acadêmico. Não deixem de conferir nossas novas matérias postadas às segundas-feiras e quintas-feiras no novo site do Circuito. Além de novidades criadas para interação da equipe com vocês leitores. Em nossa aba "sugira um artigo", você, leitor, interessado nos assuntos que tratamos no site, pode agora enviar um artigo de sua autoria que será postado em seu nome no site. Pois acreditamos que essa conquista é de todos nós, sociólogos, cientistas sociais que lutamos para que nossa voz alcance o mundo. Lembramos que essa será nossa ultima postagem neste blog, e daremos continuidade ao trabalho em nosso site. Por isso não deixem de acessar o mais novo e repaginado Site do Circuito Acadêmico!

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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Resenha da apresentação “Desigualdades sociais no Ensino Superior: viés acadêmico e ineficiências” da Profa. Maria Ligia Barbosa no seminário “Perspectiva sobre desigualdades” ocorrido no dia 02 de abril de 2014, na Pontifícia Universidade Católica (PUC - RJ), organizada pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED).



Apresento aqui uma breve resenha da segunda mesa do seminário “Perspectiva sobre desigualdades”. Numa primeira parte vou sintetizar a apresentação da professora Maria Ligia Barbosa (UFRJ), sobre o tema “Desigualdades sociais no Ensino Superior: viés acadêmico e ineficiências”. Em um segundo, vou tecer alguns comentários críticos dessa apresentação.
Maria Ligia Barbosa, professora do Departamento de Sociologia da UFRJ, iniciou sua apresentação questionando o funcionamento do sistema de ensino superior brasileiro. Os pontos básicos das suas colocações apontaram para a questão: “o quanto de modernidade e democracia nós podemos medir nesse “novo” ensino superior?”. “Novo” no sentido de um ensino repleto de ações afirmativas e de um número de diplomas e produções acadêmicas jamais vistos antes. Para conseguir dar conta do questionamento, a pesquisadora parte dos trabalhos do seu novo grupo de pesquisa, que levantará diversos pontos importantes, dentre os quais gostaria de destacar:
1) A importância de compreender claramente a questão do retorno econômico do ensino superior para o país.  Como o ensino superior é, segundo a pesquisadora, “o único a apresentar retorno positivo em torno do rendimento econômico”, é um campo que merece muita atenção das pesquisas. Apresentou então a relação entre o rendimento econômico de algumas pessoas entrevistadas pelo seu grupo de pesquisa e a escolaridade delas. O resultado geral, exposto pela professora foi que “quanto mais rico era o sujeito, menos ele considerava a educação um determinante para a sua situação econômica”.
2) A divisão entre os cursos de bacharelado e “o resto”, ou seja, licenciaturas, cursos formadores de tecnólogos etc. A professora ponderou que os bacharelados são sempre mais valorizados e considerados cursos melhores, isso por conta da dominação de uma elite que ainda interfere diretamente no sistema de ensino. A pesquisa aponta até agora a preferência quase absoluta dos alunos pelo bacharelado. Os demais cursos são considerados como de menor prestígio, tendo sempre a menor valorização para os cursos técnicos em detrimento de todos os outros, como o de licenciatura por exemplo. Um dos exemplos impactantes de Maria Ligia foi, inclusive, a citação de uma frase de um colega de trabalho. Seus alunos lhe contaram que um de seus professores disse em sala “não mudem para o curso de licenciatura, esse é um curso de pobre, não vale a pena”.
3) Seguindo a apresentação, a pesquisadora colocou um ponto teórico como uma das bases do seu estudo. Ela apresentou a “pedagogia do cultivo”, de Weber, da seguinte forma:
 Orientação dominante entre os pesquisadores da educação brasileira, a pedagogia do cultivo caracteriza-se por: a) Ignorar a divisão técnica do trabalho, inclusive no campo científico. Como exemplo, a professora falou sobre como são aceitas as opiniões e publicações de cada área de conhecimento. Ela disse: “se um professor de química publica um artigo falando da sociedade é bem aceito, mas se um sociólogo tenta entrar no campo acadêmico da química não”. b) Propor formações enciclopédicas e superficiais. Para exemplificar a segunda questão, a professora afirmou que o ensino superior está “obedecendo” uma divisão social do trabalho que “forma especialistas em nada”. Ou seja, produções cada vez menos consistentes, cada vez mais repetitivas, feitas por colegas de trabalho que não “se leem” entre eles e produzem essa repetição de conteúdo como resultado de uma educação falha.
Essa realidade acaba derivando no que a professora chama de “dialética entre o conteúdo dos saberes e a força dos títulos” e “domínio da credencial em detrimento do mérito”. Maria Ligia Barbosa ainda coloca que a “instituição escolar aparece como mecanismo de legitimação da herança social” e que “diplomas superiores tem valor meramente posicional”, afirmando que há muito mais espaço para o título do sujeito do que para o seu saber propriamente dito.
4) Como conclusão, a professora expus algumas das ineficiências presentes no Ensino Superior. São elas: a) As formas específicas de produzir e distribuir ciência; b) A dificuldade em acompanhar a evolução técnica da divisão social do trabalho; c) A falta de inovação nas publicações acadêmicas; d) E o ponto chave de sua apresentação: somos uma universidade (uma, dita nesse contexto como representação de todas as universidades) dos coronéis. A universidade é marcada pela lógica do coronelismo. Para esse ponto final a professora fez a colocação de que “é uma hipótese trágica, mas que merece ser discutida”.
Sobre as minhas reações enquanto parte da audiência da fascinante apresentação de Maria Ligia Barbosa, seguem alguns comentários.
Presenciamos um momento histórico em que entra em foco o questionamento da qualidade do processo de aprendizagem no ensino superior. A escolaridade de alunos supostamente vindos de um ensino defasado (os cotistas) complexificam ainda mais uma realidade que já era de difícil análise sociológica. Os professores que já teriam o trabalho de preparar a aula, estar “por dentro” dos temas atuais debatidos em congressos da sua área e atingir um alto número de publicações semestrais, se deparam com alunos com diferentes graus de aprendizagem e realidades socioeconômicas que agravam a disparidade no processo de ensino. Claro que essa realidade é posta em pauta na agenda da sociologia atual, apesar de até agora não observarmos significativas assistências (inclusive econômica) para os docentes.
Questionar o quanto de modernidade e de democracia podemos esperar desse “novo” ensino superior, seria questionar, portanto, o quanto a realidade sociopolítica brasileira interfere e influencia as bases da nossa educação. A professora Maria Ligia abriu as suas colocações levantando a necessidade para refletir sobre as ineficiências e problemáticas sociais mais gerais e complexas possíveis com apenas uma pergunta analítica: “o quanto de modernidade e democracia nós podemos medir nesse “novo” ensino superior?”.
A respeito do ponto que trata do retorno econômico, mais uma vez a pesquisadora consegue de forma sintética apontar para uma realidade comportamental de boa parcela da nossa sociedade. Quem, como eu, faz estágio docente em escola pública, e convive com alunos desestimulados de um ensino médio ineficiente, que ingressam em universidades ainda mais desestruturadas, sabe como é difícil seguir até o final da formação universitária. Quando um estudante tem uma boa estrutura física (boa moradia que permita um bom ambiente de estudo) e econômica (dinheiro para passar dias inteiros na faculdade – contando com alimentação, passagem, xerox do material pedido pelas disciplinas, etc.) tornam-se maiores as suas chances de completar a sua graduação, mestrado e outros cursos.
Em conjunto a essa realidade de melhor estrutura física e econômica garantindo maiores chances, para aspirar cargos mais bem remunerados do mercado, é indispensável ter não apenas graduações completas, mas contar também com cursos de línguas, mestrados, MBA’s, entre outros. Entretanto, como citou a pesquisadora, “quanto mais rico era o sujeito, menos ele considerava a educação um determinante para a sua situação econômica”. Mais uma vez, de forma sintética e astuta, a professora chamou atenção para uma grande contradição entre a avaliação da elite sobre o contexto econômico relacionado ao educacional, e a realidade social brasileira.
Partindo para o segundo ponto, como aluna de licenciatura observo constantemente a marginalização do curso, no sentido pôr a licenciatura à margem – de forma periférica- do sistema educacional do IFCS. Nesse momento da apresentação, a professora apresentou o seguinte tópico: “As formas dominantes dos processos educativos na sociedade brasileira: as concepções mais fortes acabam se expressando nas práticas e no funcionamento do ensino superior.”
Unindo esse assunto com os pontos apresentados anteriormente, interpretei as “concepções mais fortes” como a ideia mais tradicional de como funcionava a academia no passado. Tais concepções estariam ligadas a acadêmicos sendo membros da elite responsáveis por pensar os pontos chaves de funcionamento da sociedade obedecendo a divisão social do trabalho, cada um com a sua contribuição. Licenciados e tecnólogos não “dariam conta” de desenvolver reflexões consistentes estando ocupados em dar aulas ou trabalhando em serviços técnicos. Ou seja, as ocupações cotidianas que a formação de licenciatura e cursos técnicos daria aos profissionais formados, impediria que eles tivessem tempo para refletir de forma tão eficiente quanto os alunos de bacharelado que se dedicariam somente a essa tarefa.
Tais “formas dominantes” que se expressam no ensino superior são vivenciadas por exemplo, por alunos do curso noturno de licenciatura de ciências sociais da UFRJ que trabalham durante o dia e conciliam-no com a faculdade à noite. Aqueles que, por exemplo, se encontram atualmente no penúltimo período, e estão desde o início da graduação dispostos e preparados para trabalhar em algum projeto de iniciação científica, se deparam várias vezes com falta de oportunidades, já que a maioria (se não todos) os professores que orientam o funcionamento de ICs não recebem estrutura e apoio da universidade para estarem à noite nas universidades orientando os alunos e seguindo com os projetos.
Já sobre o ponto da divisão técnica do trabalho, tenho algumas reações. Maria Ligia Barbosa, mais uma vez, colocou de forma prática e clara as questões sobre o assunto. Para quem convive no ambiente universitário é clara a valorização dos cursos de exatas em detrimento aos cursos de humanas. Ouvir uma professora e pesquisadora de uma das maiores universidades do país, que tem atuado como consultora da CAPES, que essa diferença é tão marcada foi um momento importante para o seminário. Partindo então desse estímulo, sobre o ato de ignorar a divisão técnica do trabalho no campo científico, tenho como estudante mais alguns exemplos. Fica clara a diferenciação feita entre os cursos observando as questões práticas e físicas da organização dos cursos dentro da UFRJ. As bolsas dos alunos de engenharia, por exemplo, ultrapassam em alguns casos, mil e quinhentos reais, enquanto que a bolsa máxima para alunos de ciências sociais chega a quatrocentos reais. Além disso, a estrutura física na Cidade Universitária, campus da UFRJ que acomoda alguns cursos (em sua maioria de exatas) conta com um bandejão, a maioria das salas equipadas com ar condicionado e projetores multimídia. Já no IFCS e no Campus da Praia Vermelha (unidades em que são maioria os cursos de humanas) são minoria as salas que possuem os equipamentos citados. 
                Do início ao fim de sua exposição a professora Maria Lígia Barbosa tomou para si a atenção de todos os espectadores presentes, os manteve interessados até a hora do debate final, ocorrido depois das apresentações, fazendo o link entre o público e a mesa. Sua apresentação contemplou pontos cruciais e básicos para entender sociologicamente o ensino superior brasileiro, e serviu como inspiração não só para mim, mas para muitos estudantes ali presentes, que comentaram a respeito na saída da sala do evento. Refletir sobre tais temáticas que rondam a vida universitária se tornou uma tarefa muito mais simples depois de ter uma pesquisadora que conseguiu dar conta de expô-los de forma tão sistemática e completa. 





Palavras-chave:  ENSINO SUPERIOR, DESIGUALDADES, COTAS, CORONELISMO, MARIA LIGIA BARBOSA, BRUNA SALDANHA.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Para a professora Elisa Reis, na busca pela internacionalização das Ciências Sociais, investimentos em projetos colaborativos são mais eficazes que investimentos em traduções e participações em congressos no exterior.



Com uma longa trajetória e participação em conselhos científicos, nacionais e internacionais, a Profa. Elisa Reis defende a internacionalização das ciências sociais do Brasil a partir da adoção dos modelos  de produção, escrita e circulação do conhecimento que priorizem o padrão hegemônico e o diálogo com os países centrais. Sua esclarecedora entrevista levanta polêmicos questionamentos aos esforços de cooperação Sul-Sul, ao financiamento de participação em congressos internacionais e tradução de artigos e às pesquisas centradas na peculiaridade brasileira –como as do Pensamento Social Brasileiro. Defende, em contrapartida, a concentração de recursos em projetos que englobem grande número de pesquisadores e estudem temas de relevância internacional. Confira a entrevista!

Elisa Reis é Cientista Política pelo MIT (EUA) e professora do departamento de Sociologia da UFRJ. Coordena o NIED – Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade.








Quais são, em sua opinião, os maiores desafios da academia brasileira para a sua internacionalização?

- Você está pensando na academia como um todo, ou apenas nas ciências sociais?

Como um todo.

- Perguntei porque existe muita diferença entre a academia como um todo e as ciências sociais, em particular. Na academia como um todo, houve muito avanço, não só pela multiplicação de bolsas sanduíche e de doutorado pleno, mas sobretudo pela colaboração rotineira entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Ou seja, o desafio da internacionalização tem sido enfrentado de maneira bastante clara nos anos recentes. Naturalmente, em todas as áreas ainda há muito a ser feito. A colaboração transnacional é mais fácil em algumas áreas de pesquisas. A EMBRAPA, por exemplo, é uma ilha de excelência, porque definiu nichos de pesquisa que são relevantes aqui e no exterior também. Isso facilita a colaboração. Outro exemplo é a área de medicina tropical, onde o Brasil tem grande know how, e pode colaborar muito com o conhecimento científico mundial. A colaboração, nesse caso, não tem sido só com os países que enfrentam problemas comuns aos nossos, mas também com aqueles que não os enfrentando diretamente, têm interesse em adquirir conhecimento para solucionar doenças que afligem os países tropicais. Esse é o desafio: encontrar nichos de colaboração internacional que sejam relevantes e produtivos. Para a academia como um todo esse é o desafio básico.

 
Quais seriam as razões que explicariam a menor presença da produção brasileira, nas ciências sociais, em periódicos internacionais?

- Um problema real, reconhecido por todos, é nossa falta de intimidade com a língua franca da ciência, o Inglês. Esse problema pesa em todas áreas científicas, mas é especialmente agudo nas ciências sociais e humanas. Uma consequência disso é que no Ciência sem Fronteiras, as pessoas nem sempre têm condições de ir para centros mundiais de excelência, porque não dominam a língua inglesa. No caso das ciências da vida ou das ciências naturais o problema é menos grave, porque elas são menos verbais que as ciências sociais. Nos laboratórios, os reagentes comportam-se da mesma forma em qualquer língua. Para nós das ciências sociais o problema é mais dramático porque nosso instrumento de trabalho é a palavra. Assim, não ter um bom treinamento em inglês é um problema grave quando buscamos a internacionalização.
Às vezes, sugerem-se medidas como publicar revistas brasileiras em inglês. Não acho que isso seja prioritário. Não se trata de publicar nossas revistas em inglês e nem, como muitos sustentam muitos, prover recursos para professores e pesquisadores brasileiros em ciências sociais terem seus artigos traduzidos por especialistas. Realmente, isso não me parece prioritário atualmente, embora iniciativas ocasionais nesse sentido possam ser justificáveis. Há um problema preliminar a ser resolvido, qual seja, lograr nossa inserção no debate mundial.  A verdade é que não estamos efetivamente inseridos neste debate. O pouco esforço feito como, por exemplo, intensificar o debate Sul/Sul, é meritório. Mas também não é através desse tipo de iniciativa que vamos, de fato, internacionalizar, pois vamos criar outra segmentação regional no mercado da produção científica. O obstáculo maior é não conseguir formular questões de pesquisa que transcendam as peculiaridades brasileiras. Somos treinados a refletir sobre a realidade brasileira perdendo de vista a perspectiva comparativa. Claro que há exceções, mas é muito difícil interessar leitores estrangeiros na nossa produção enquanto ela se preocupar em ressaltar as peculiaridades brasileiras. Temos que fazer um esforço para nos inserirmos nos temas e nas discussões que se processam efetivamente no diálogo internacional. Para isso, existe um formato, um protocolo de pesquisa e um protocolo de redação de resultados de pesquisa. Por exemplo, devemos ser treinados e treinar nossos alunos a redigir textos nos quais os resultados da pesquisa sejam enunciados de forma explícita. E antes mesmo disso, há requisitos fundamentais do tipo: qual é a pergunta de pesquisa que você está buscando responder? Como é que você chegou a seus resultados? Que métodos e recursos de análise utilizou?  Temos muito pouco disso. O que predomina na ciência social brasileira é uma produção de caráter quase artesanal, ou mesmo plenamente artesanal.

E não científico?

- Não estou contrapondo artesanal e científico. O artesanal é aquilo que você faz com os seus próprios recursos técnicos, no seu próprio canto. Não sei se posso fazer um paralelo com a produção industrial, mas a produção realmente contemporânea, o formato contemporâneo de produzir, é exatamente o oposto da artesanato. Se você têm um estudo tão pessoal e com um resultado tão original que só pode ser entendido nele mesmo e não dialoga com a literatura pertinente, isso se torna quase uma produção artística.  Claro que essa pode ser genial, mas no geral tende a ser trivial e pouco relevante. Não é difícil encontrar justificativa porque isso acontece. É trabalhoso e caro montar e administrar grandes projetos. Além disso, é mais fácil para as agências de fomento pulverizar os recursos na nossa área. Você distribui um pouco de dinheiro para cada pesquisador, e ele faz um projeto. Todo mundo é líder de pesquisa no Diretório de Pesquisa.  São pouco animadores os resultados agregados dessa infinidade de projetos que são financiados. Há um investimento que não se pode dizer que é improdutivo, porque as pessoas produzem, mas o que elas produzem têm pouco efeito multiplicador de conhecimento. Mesmo que a preocupação nem seja internacionalizar nossa produção. As vezes para uma bibliografia de curso queremos incluir um artigo ou um livro que seja esclarecedor sobre algum problema social e não encontramos. Há uma infinidade de estudos de caso. Ou então algo que é muitas vezes bem feito, mas que, em minha opinião,  está super dimensionado no Brasil, que é a produção sobre o chamado pensamento social brasileiro. Não há dúvida que essa é uma especialização muito importante, e que temos excelentes pesquisadores nessa área. Mas por que digo que está super dimensionada? Porque grande parte desses trabalhos é na verdade história das ideias. Como tal, muito importante, fundamental mesmo como instrumental para outros tipos de análise.  Mas está faltando uma maior ênfase em pesquisas que busquem respostas à questões específicas, que formulem perguntas claras e tracem estratégias para responde-las. Isso quase não tenho visto. Se vamos buscar internacionalização, ter uma questão de pesquisa é fundamental. É fundamental saber propor uma questão de pesquisa que seja relevante aqui, ou em qualquer outro contexto.


A senhora tem longa experiência participando em foros e associações de classe, especialmente no exterior. Quais seriam alguns caminhos viáveis a médio prazo para fazer com que o diálogo entre academias centrais e periféricas seja mais equitativo.

- Algo que em minha opinião já se esgotou é a denúncia dessa desigualdade. Ela pode cumprir uma função psicossocial importante, criar uma identidade entre os analistas e os pesquisadores das academias periféricas ou do Sul, como quer que seja que denominemos tais grupos. Esse recurso expressivo contribui para criar uma comunalidade de sentimentos em torno da constatação de uma situação de inferioridade no cenário de publicações. Mas isso tem um alcance muito limitado. Dada essa constatação, que podemos fazer para superar a condição periférica? Em certo sentido já adiantei respostas em minhas observações anteriores. Mas, claro que podemos buscar maior instrumentalidade. Por exemplo, se pensarmos sob o ponto de vista das agências de fomento, elas poderiam criar estímulos para a implementação de projetos que contemplassem também a participação de pesquisadores de fora do Brasil. A propósito, a FAPERJ lançou recentemente um edital que visa promover projetos colaborativos com a Columbia University.  O simples fato de você ter uma agência de fomento brasileira, e um centro de pesquisa notável, Columbia no caso, mas poderiam ser tantos outros, cria um estímulo para nos inserirmos em uma produção mais internacionalizada. Esse pode ser um dos caminhos. Ou ainda, se houvesse, sob o ponto de vista das agências de fomento uma mudança de escopo, se em vez de pulverizar recursos elas agregassem recursos, de forma que diversos cientistas sociais se juntassem em um grande projeto comum, isso provavelmente nos ajudaria a competir melhor no cenário internacional. Claro que isso nem seria uma novidade, já tivemos a experiência do PRONEX e temos a dos Institutos do Milênio. Mas, esses programas competem com a distribuição mais pulverizada, e além disso, a continuidade que é fundamental para o sucesso de tais iniciativas ainda não foi inteiramente posta à prova.


Como a senhora avalia a UFRJ no processo de internacionalização? Existem políticas que estejam sendo implementadas na área de Ciências Sociais?

- Não tenho conhecimento de debates dessa questão na UFRJ. Ouço propostas ocasionais como, por exemplo, “vamos distribuir recursos para as pessoas terem seus artigos traduzidos para o Inglês”.  Como já disse, considero essa estratégia paliativa e não prioritária. De qualquer forma, não vejo no âmbito das Ciências Sociais no Brasil esforços mais efetivos para a internacionalização. É bem verdade que não apenas na UFRJ, mas no cenário acadêmico brasileiro como um todo as pessoas são incentivadas a apresentarem trabalhos em congressos e seminários internacionais. Isso é positivo e seria injustiça não reconhecer que o Brasil, e a UFRJ particularmente, já avançaram neste processo. Há mais cientistas sociais brasileiros participando  em eventos acadêmicos internacionais. Mas isso é pouco. Seria melhor concentrar recursos em projetos conjuntos que em passagens aéreas para participações em congressos, que conectam as pessoas, ampliam os horizontes delas, mas têm menor impacto direto sobre a produção em ciências sociais.



Muito obrigado por participar do nosso blog!
 







Palavras-chave:  INTERNACIONALIZAÇÃO, PUBLICAÇÃO ACADÊMICA, PRODUTIVISMO, TRADUÇÃO, UNIVERSIDADE, AVALIAÇÃO, GEOPOLÍTICA DO CONHECIMENTO, ELISA REIS.